Paulo  Robalo

Sumo - 2007

Sumo

Diâmetro 4 e meio

Sobre um tronco de pirâmide de base quadrada em adobe (doyhô), implantado de acordo com as orientações dos pontos cardeais, dois lutadores (Rikishi) com olhares fixos e gestos contidos, tentam afastar o seu forte oponente de um círculo com 450 cm de diâmetro. Momentos antes sob um tecto de evocação xintoísta, em jeito de cerimónia lançaram sal (kiyome no shi) purificador de almas e gargarejaram com água (tikaramizu). No ar desenharam códigos de honra com movimentos coreografados. Estes Deuses semi-nus, com penteados (tyon maguê) fixados em óleo de camomila (ô--icho) , suspensos pelos seus volumosos semblantes de 180 kg movem-se por intermédio de setenta posições com agilidade e precisão. O árbitro (gyogi) ao leme, envolto no seu airoso kimono colorido e o público expectante aguardam o desfecho de mais um confronto que poderá classificar o Rikishi na mais alta posição do ranking - o Yokusuna.

O observador atento, pintor de outra cultura, com redobrada sedução procura num processo de pesquisa e experimentação formal registar estes momentos. Em suportes de dimensões variadas, utiliza técnicas de pintura que lembram usos culinários. O ingrediente de eleição é a cera de abelha, fundida a quente com pigmentos naturais de fortes contrastes cromáticos. O desenho, sempre presente, baliza a composição sobrepondo-se a um fundo fértil de matérias; as resinas, a goma laca, o pó de pedra, completando esta dieta os betumes judaicos.

Partindo sempre de um outro olhar, com sofreguidão, procura nesta manifestação de uma cultura ancestral traduções que lhe sejam familiares e que o remetem para espaços que inevitavelmente identifica - o espaço de representação cénica e a instalação. É nesta busca quase obsessiva de representação do rigor de gestos contidos mas dinâmicos que o pintor procura outros olhares com quem possa partilhar a nobreza de um acto que dura em média cerca de 13 segundos e que simultaneamente se desenrola num tempo poético manifestamente mais lato.

Paulo Robalo

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Sumo

por Paulo Robalo